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Retomada Econômica e os Cisnes Negros

  

cisne negro e branco com moedas douradas

A economia brasileira passou nos últimos anos pela euforia de um boom econômico para uma profunda recessão. O crescimento econômico de 7,5% em 2010, motivado em parte pelo estimulo ao consumo com redução dos juros e oferta de crédito gerou uma falsa noção de crescimento e bem-estar social. O endividamento das famílias, os déficits fiscais e a incerteza generalizada corroboraram para os piores resultados da economia brasileira, impactando em média 3,5% de retração no PIB em 2015 e 2016. Em 2017, a soma de todas as riquezas produzidas no país registrou um crescimento na ordem de 1,1%, o que em parte justificou-se pelo desempenho positivo da agropecuária e do setor de serviços.

Naquele ano, a retomada econômica foi lenta e incerta, devido a fatos exacerbados e inesperados denominados cisnes negros. Na obra “A lógica do cisne negro”, Nassim Taleb define que um cisne negro é um evento com três características elementares: é imprevisível, ocasiona resultados impactantes e, após sua ocorrência, inventamos um meio de torna-lo menos aleatório e mais explicável.

Nesse contexto, o ano de 2017 foi marcado por um evento que levou em pânico o mercado financeiro, a delação dos irmãos Batista envolvendo a base política do país. O mercado que até então seguia com expectativas de crescimento gradativo, encerrou o dia de 18 de maio com dólar em alta de 8,15% e com forte intervenção do Banco Central representando o maior salto da moeda desde janeiro de 1999. O Ibovespa, principal termômetro financeiro, encerrou o pregão com 8,8% de queda, sendo que na abertura do mercado o mecanismo de proteção “Circuit Breaker” foi acionado devido a oscilação negativa ser superior a 10% no volume das negociações. As ações de estatais encerraram o dia com fortes quedas (Eletrobrás -20,97%, Petrobrás -15,76% e Banco do Brasil -19,91%).

“…o ano de 2017 foi marcado por um evento que levou em pânico o mercado financeiro, a delação dos irmãos Batista envolvendo a base política do país.”

Após maio/17, a incerteza tomou conta dos rumos da economia brasileira, o índice de confiança do comércio recuava após 5 meses de alta, a indústria que já mostrava dificuldades consistentes de recuperação ficou praticamente estagnada e o país passou a registrar após 11 anos deflação. De forma muito tímida a economia voltou a crescer no terceiro trimestre/17, a indústria avançou impulsionada pelo aumento de produção de alimentos, manufaturas, veículos e móveis. A formação bruta de capital fixo (investimentos) avançou 1,6% entre os meses de julho e setembro e embora que pífia, essa reação contagiou também o setor de serviços que foi estimulado por uma melhor confiança do consumidor diante de um quadro de juros e inflação baixas.

O ano de 2018, começava com o governo elevando suas previsões de crescimento do PIB de 2% para 3% ao ano. Segundo o ministro da fazenda Henrique Meirelles, o processo de redução do endividamento das empresas, a queda de juros e a expectativa de inflação controlada refletiam em uma gradual retomada do crescimento.

Porém o segundo cisne negro apareceu novamente em maio/18 com a greve dos caminheiros, apresentando efeitos semelhantes aos observados ao mesmo período de 2017, registrando no trimestre quedas acentuadas na formação bruta de capital fixo (- 1,3%), exportações (- 5,1) e importações (- 1,2) de bens e serviços. Seguindo o mesmo movimento de retomada pós a ruptura do ano anterior, o terceiro trimestre já apresentava uma melhora significativa nos indicadores macroeconômicos, mesmo considerando a dubiedade política em relação as eleições presidenciais. Cabe ressaltar que a previsão de crescimento do PIB para 2018 deve ficar na ordem de 1,3%.

“…infelizmente um novo cisne negro surge em janeiro/19, o rompimento da barragem de Brumadinho (…) o qual resultou em um dos maiores desastres com rejeitos de mineração no Brasil.”

Por fim, novamente as expectativas de crescimento do governo para 2019 são estimadas em torno de 2,5% e com cenário de juros (Selic) estáveis em 6,5% ao ano. Não menos importante, infelizmente um novo cisne negro surge em janeiro/19, o rompimento da barragem de Brumadinho da empresa Vale do Rio Doce S/A, o qual resultou em um dos maiores desastres com rejeitos de mineração no Brasil, causando impactos ambientais e humanos irreparáveis.

Diante desse cenário, 2019 começa com inúmeros desafios, que passam pela tragédia de Brumadinho, seguindo pela a aprovação das fundamentais reformas que o país tanto necessita para consolidar crescimento econômico.

A incapacidade de se fazer previsões de cisnes negros como os ocorridos Joesley Day, greve dos caminheiros e rompimento da barragem de Brumadinho torna o mercado financeiro e a economia brasileira vulneráveis e extremamente passíveis a efeitos negativos no que tange aos aspectos conjunturais e sociais. Segundo Tabeb, é fundamental nos ajustarmos a sua existência, ao invés de tentar prevê-los. Mas se é impossível antever o curso da história e os cisnes negros sempre ocorrerão, o que esperar de 2019?

Gustavo Bertotti

Mestre em Economia e Professor de Economia e Finanças do Centro Universitário da FSG.

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